Jogo abafador
Luis Paulo Vieira Braga
“O movimento anticorrupção faz o jogo conservador estimulando o desencanto com política. Mais: desmoralizando a política” Jornal de uma Associação de Docentes no seu número semanal de 17 de outubro
Eu não sou portavoz do movimento anticorrupção, nem membro de sua coordenação, decidi aderir individualmente às manifestações no dia 30 de setembro, quando organizaram a primeira delas no Rio de Janeiro, na Cinelândia. Lá estavam os bombeiros, os moradores de Santa Tereza, jovens e idosos cidadãos vítimas do rumo desvairado da corrupção. No dia 12 de outubro outra manifestação em Copacabana indicava que o movimento veio para ficar e ainda vai crescer muito. A sua forma e trajetória me parecem ainda em formação, portanto são prematuras análises definitivas sobre sua verdadeira natureza.
Chocou-me, portanto, como membro de uma Associação de Docentes, hoje na órbita do PSOL e da CONLUTAS, que o seu jornal desqualificasse nesses termos um movimento que pode estar fazendo pela política brasileira exatamente o contrário do que o panfleto lhe atribui. Qual partido pode exibir um desempenho significativo distinto do que se vê como regra, na prática política institucionalizada no país? Antes que os seus parlamentares, que participaram individualmente das manifestações no Rio e em Brasília, possam subir aos palanques e desfraldar suas bandeiras, precisam mostrar muito serviço limpo e efetivo em prol da decência no uso do dinheiro público.
Ao contrário do que afirma em outro trecho o panfleto intitulado “Jogo conservador”, a corrupção não é exclusividade do capitalismo. Os países comunistas no passado e no presente desenvolveram enormes esquemas de corrupção que foram e são responsáveis significativos pelas suas crises. Com um agravante, falta de liberdade de imprensa para denunciar as falcatruas. A arrogância e a generalização com que os comunicadores ditos “classistas” atacam a imprensa, caracterizando-a como Partido da Imprensa Golpista (PIG), as mesmas iniciais da palavra porco em inglês, podem se virar contra seus inventores, pois PIG também pode significar Partido da Imprensa Governista.
É lamentável que diante da enxurrada de escândalos que ocorrem inclusive nas universidades, essa Associação Docente venha abrir fogo contra cidadãos comuns que levam para as ruas, de peito aberto, cartazes toscos, desenhados a mão, cotizando-se para alugar um carro de som, sem as verbas da contribuição sindical obrigatória, sem verbas de estatais ou de governos. Imaginem quando essas correntes estiverem no poder, qual será sua tolerância com o contraditório? Fica, portanto, assim registrada a minha indignação com o tratamento utilizado nessa nota que bem mereceria o título de Jogo abafador.
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